Os indicadores do final de 2024 já indicavam o que rapidamente se viria a confirmar – o impacto da garantia pública do Estado, aliado à isenção fiscal para jovens até aos 35 anos na compra de habitação própria e permanente, veio influenciar decisivamente a procura por nova habitação.
O imobiliário está em máximos históricos. Com os preços de venda a crescer rapidamente, e não havendo igual percurso nos rendimentos dos agregados familiares, acentuou-se uma crise de acessibilidade, bem espelhada no relatório da OCDE, que indica que os preços das casas mais do que duplicaram desde 2014, enquanto os rendimentos médios cresceram apenas 33%.
“O imobiliário está em máximos históricos. Com os preços de venda a crescer rapidamente, e não havendo igual percurso nos rendimentos dos agregados familiares, acentuou-se uma crise de acessibilidade…”

No centro desta dinâmica residencial, há uma clara e expectável evidência – uma maior alavancagem em crédito. Os números mais recentes do Banco de Portugal referem que 43% dos novos financiamentos para aquisição de habitação foram concedidos a jovens entre os 18 e os 35 anos, que estão a comprar num mercado que atingiu máximos históricos e com níveis de endividamento a 100%.
Claro que esta medida reduz desigualdades geracionais – que, na dimensão de acessibilidade económica, não conseguiriam adquirir casa de outra forma – mitigando um risco social. Facilmente se percebe que o não acesso à habitação destrói muitas perspetivas de vida, com os jovens a permanecerem cada vez mais tempo em casa dos pais, e é, em si mesmo, um fator de inclusão social com continuidade intergeracional, sempre que se verifique a possibilidade de transferência de riqueza por via de património habitacional.
Não obstante, é necessário ter em mente que estas medidas colocam pressão adicional sobre o preço das habitações, num mercado com poucas medidas concretizadas do lado da oferta.
Urge, portanto, implementar uma série de medidas já amplamente elencadas e discutidas em múltiplos fóruns. Da política pública de habitação à redução do IVA na construção, a palavra de ordem é “fazer” – não esquecendo também que estas limitações não se esgotam nos jovens.”



